sexta-feira, 19 de agosto de 2011
segunda-feira, 27 de junho de 2011
terça-feira, 26 de abril de 2011
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
Muito além de uma abordagem tradicional: Perspectivas para pesquisa histórica sobre os quadrinhos
Artigos, dissertações e teses tendo Histórias em quadrinhos como objeto de reflexão, que até então tinham melhor aceitação no campo da Comunicação Social e na área dos Estudos Literários, aos poucos têm aparecido em campos do conhecimento os mais diversos, como o da História. Aqui trato, mesmo que de maneira breve, apenas do campo da História por ser este o da minha formação. Bem, apesar da incorporação de HQs como fonte entre historiadores, os temas que têm sido pesquisados quase sempre giram em torno daquelas personagens de maior destaque, publicadas por editoras de expressão, e daqueles autores considerados “cânones” no gênero. Particularmente não tenho nada contra quem opta por estudar autores consagrados, mas o esforço de contextualização dos quadrinhos não deve se limitar exclusivamente a estes.
É necessário lançar um olhar àqueles ilustres desconhecidos quadrinistas e àquelas experiências em produção de quadrinhos que acabaram sendo deixadas de lado pela memória. Se “Há ainda muito a se estudar, toda uma ‘história dos quadrinhos’ a ser escrita e uma tradição crítica a ser estabelecida” – como bem expressa o pesquisador Wellington Srbek na introdução de “Um mundo em quadrinhos” [1]–, é necessário considerar toda e qualquer manifestação dentro do gênero HQ. Afinal, a História desde os Annales passou a tratar, no tempo e no espaço, tanto dos vencedores quanto dos vencidos, não?
Tendo em vista tal perspectiva, experiências de produção independente como a de um Lacarmélio Alfêo de Araújo, roteirista, desenhista e criador de Celton, se oferecem como matéria de interesse tão relevante quanto às de um Robert Crumb ou de um Gilbert Shelton, não? Além do fato de que seus quadrinhos acabam por construir representações sobre a capital mineira, até mesmo a figura de Lacarmélio como um vendedor ambulante de quadrinhos é interessante do ponto de vista da compreensão de determinadas práticas do cenário urbano de Belo Horizonte.
A potência que seus quadrinhos adquiriram está atrelada não exclusivamente aos temas explorados nas páginas, mas também ao fato de que eles se encontravam à margem, tanto do ponto de vista das grandes editoras quanto de práticas insitucionalizadas (é sabido que Celton – como Lacarmélio também é conhecido - chegou a sofrer perseguições até mesmo por parte da Prefeitura de Belo Horizonte, por diversas vezes, já que vender "arte" nas ruas era tido como comércio informal).
Os historiadores não precisam tratar unicamente de Henfil para compreender acerca do período de 21 anos conhecido como Ditadura Militar no Brasil. Poderíamos considerar como um Carlos Zéfiro ao fazer do anonimato uma estratégia para divulgar seus “catecismos”, isto é, seus quadrinhos de conteúdo erótico-pornográfico, acabou desmobilizando, em parte, a moral que o regime pretendia legitimar. Zéfiro (pseudônimo do funcionário público Alcides Caminha), assim como outros quadrinistas anônimos do gênero “mulher pelada”, pode ser estudado do ponto de vista das relações que o país estabelecia com o quadro da Guerra Fria, justamente pelo fato das autoridades vigentes consideravam aqueles quadrinhos como, dentre outras coisas, uma estratégia de Moscou introduzir o comunismo no Brasil por meio da pornografia[2].
Há ainda uma produção “marginal” a ser estudada: a dos fanzines. Um interesse maior sobre produção de editores e quadrinistas anônimos, inspirados em trabalhos de autores consagrados ou não, pode suscitar um campo de pesquisa acerca das apropriações e ressignificações de determinados quadrinhos e suas personagens. Pesquisas sobre quadrinistas brasileiros que insistiram em transpor o modelo norte-americano dos super-heróis, em diferentes períodos, e, por diversas vezes, acabaram sendo pouco (re)conhecidos também são bem vindas.
Enfim, não cabe aqui fazer uma conclusão, mas suscitar questionamentos, oferecer temas possíveis de pesquisa e estimular que o leitor deste pequeno texto contribua no sentido de aprofundar o debate em torno de quadrinistas pouco ou nada reconhecidos. Espero, de certo modo, ter contribuído com estes prováveis temas de pesquisa para um maior do uso de quadrinhos como evidência histórica.
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